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Foto do escritorCintia Mano

Vieses e onde habitam



Alguns meses atrás, várias conversas me levaram a falar sobre vieses. Em uma delas eu disse "Olha, eu vou dar minha opinião, mas quero deixar claro minha tendência de opinião”.

Isso me fez refletir sobre como eu me tornei mais consciente sobre minhas preferências e preconceitos, a partir do momento que resolvi ser mais ativa na busca por eles.

Acredito que ser honesto sobre nossas inclinações é uma atitude de consideração para com aqueles com quem conversamos. Mas para isso, é preciso detectá-las e reconhecê-las. Quando somos o alvo de um julgamento enviesado, isso é muito fácil de perceber. Mas e quando somos nós que agimos assim? Conseguimos identificar tão facilmente?

Então, se você ainda está aqui comigo, vou propor um jogo. Pense em uma ou duas palavras que vêm à sua mente sobre este artigo. Agora. Não importa se você já me conhece (e assim tem mais informações sobre o que esperar) ou não (e então, só tem o título, algumas linhas e meu perfil).

Fui e sou julgada com base em vieses, claro, todos nós. Para o mal e para o bem. Mas não é este o foco.

Estou interessada nas vezes em que eu que julguei injustamente alguém ou algo pelo fato de minha antena de recepção estar contaminada por experiências e conceitos já sedimentados.

Durante os últimos cinco anos eu tenho feito algo de que gosto muito: assistir a pitches de start-ups. Primeiro como colega, depois, como mentora, jurada e como investidora. A questão é: quanto menos tempo e menos informação você tem para avaliar algo, mais você usa seus vieses. Eles agem como atalhos para a tomada de decisão.

Um dia, depois de um pitch que correu diferente das minhas expectativas, eu criei um jogo para mim mesma.  Comecei a fazer exatamente o que eu pedi para você fazer algumas linhas acima. Quando o pitch estava prestes a começar, eu escrevia uma ou duas palavras sobre aquela empresa ou sobre os empreendedores que ali estavam, com base no que eu sabia até aquela hora. Poderia ser o primeiro slide ou como a empresa foi apresentada. Ou, ainda, o quão ansiosos ou confiantes os empreendedores pareciam.

O que eu tenho aprendido com essa experiência? 

1)  Viés é realmente sobre nós mesmos A primeira camada de aprendizado é a partir da simples comparação entre as palavras escritas no papel e o que eu via na apresentação. Comecei a me perguntar: por que eu tinha determinada expectativa sobre aquela pessoa / negócio? O viés mais simples é pensar positivamente sobre nós mesmos e nossas experiências. Uma pessoa com história de vida semelhante, vendendo um produto que eu adoraria comprar, vinda da mesma cidade ou formação, um negócio que soa familiar, tendem a causar uma impressão positiva e, consequentemente, uma expectativa positiva sobre o que vem a seguir. Por que eu achava aquele empreendedor arrogante? Ou por que eu escrevi no papel que a empresa parecia pouco ambiciosa e, no final, vi exatamente o oposto? Aquilo era muito mais sobre mim, sobre as minhas lentes, do que sobre eles.

2) Enquanto processamos informações, ficamos felizes em confirmar nossos vieses - e isso é tão perigoso! Após o estágio de simplesmente comparar as expectativas com as avaliações, comecei a prestar atenção no meu processamento das informações que eu recebia durante os pitches. Podia quase ver minha mente à procura de evidências que confirmassem minhas suspeitas. Coisas que um sócio mencionou e que não correspondiam ao meu julgamento inicial, eu considerava menos importante. Mas quando confirmavam minha expectativa, bingo! Eu sabia!

3) Viés pode influenciar o nosso julgamento, mas nós temos mais recursos Quanto mais eu jogo, mais aprendo sobre minhas tendências. Isso me faz procurar pelos fatos, mesmo os que não se encaixam em minhas expectativas. Esta é uma das formas para reduzir as chances de um julgamento errado. Também me ajuda a formular perguntas. Então, em vez de simplesmente concluir, passei a fazer mais perguntas para confirmar minhas inferências.

4)  Se você não quer perder boas oportunidades, você precisa saber onde habitam seus vieses Julgamentos errados sempre trazem consequências. No meu caso, se um viés me leva a aprovar uma start-up e me arrependo depois, isto é um problema, porque nós dois perdemos tempo (eu e o empreendedor). Mas isto é o pior que pode acontecer, pois haverá outras oportunidades para conversar e verificar a primeira impressão antes de se fechar o negócio. Por outro lado, se eu perder uma boa start-up porque avaliei mal uma pessoa ou um negócio, é um problema diferente. São pequenas as chances de uma segunda oportunidade para ambos (para o empreendedor conseguir o financiamento e para eu investir naquele negócio). Então, pior do que os falsos positivos, são os falsos negativos.

Pode acontecer e acontece o tempo todo. Com oportunidades de negócios, recrutamento, parcerias, amigos. O que estou perdendo por causa dos meus vieses?

Agora é hora de você se divertir com os seus. Chegamos ao final do artigo e você pode checar suas expectativas contra a realidade.

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